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Autoagressão versus comportamento suicida

  • Foto do escritor: CA FAMERV
    CA FAMERV
  • 24 de out. de 2020
  • 3 min de leitura


(Resumo: automutilação é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. Alguns pacientes apresentam rituais de automutilação e passam muito tempo pensando em executá-la. Por sua vez, o suicídio é cada vez mais um fenômeno de relevância social, devido ao seu impacto social, visto que estudos mostram que pelo menos seis pessoas são afetadas por um suicídio. Ambas situações envolvem uma dor emocional excruciante que leva o indivíduo a tomar decisões extremas, porém, o paciente suicida deseja acabar com seu sofrimento definitivamente, finalizando sua própria vida, já aquele que se auto agride procura uma “distração” de sua dor, uma forma de amenizar a dor emocional e recanaliza-la para a dor física. Dessa forma são situações clínicas diferentes e carecem terapêuticas e abordagens psicológicas diferentes, visando um bem-estar global do paciente em questão.)


Por Lethicia Araujo Cordeiro


Autoagressão é qualquer comportamento intencional, direcionado a si mesmo, que causa destruição de tecidos corporais. Isso causa assombro na população, por que um indivíduo causaria dor a si mesmo? Esse espanto pode ser explicado pela tendência natural dos seres humanos de, a princípio, evitar a dor e buscar o prazer . Logo, uma pessoa que se autoagride vai de encontro com o ímpeto da sobrevivência “livrar-se da dor”. Independentemente das razões do indivíduo, a autoagressão provoca

consequências sérias para a vida deste. O paciente costuma evitar socializações,5passa a usar roupas que escondem evidências de autolesão e procura se isolar das pessoas.

Segundo dados da OMS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos, sendo que a cada três segundos uma pessoa atenta contra a própria vida. O suicídio não apenas está entre as dez principais causas de morte, como também está entre as duas ou três causas mais frequentes de morte para o grupo de adolescentes e adultos jovens. As motivações para o suicídio podem incluir desejo de desistir diante de obstáculos percebidos como insuperáveis, anseio de pôr fim a um estado emocional extremamente doloroso, incapacidade de encontrar algum prazer na vida ou a avidez de não ser um “fardo” para os outros.

É bastante difícil compreender por que um determinado indivíduo decide cometer suicídio, ao passo que outras pessoas em situação similar não o fazem. O que se pode afirmar, considerando a experiência clínica e a experiência de pesquisa, é que há grande complexidade para compreender o comportamento suicida. Sabemos que há fatores emocionais, psiquiátricos, religiosos e socioculturais.

São um conjunto de fatores que ajudam a compreender a situação de vida, o sofrimento que essa pessoa carrega e, por isso, a busca da morte.

Como profissional de saúde é muito importante saber identificar os principais sinais do comportamento suicida: desinteresse em se cuidar, falta de projetos de médio e longo prazo, humor apático e diminuição da interação com pessoas próximas, queixas constantes de sintomas subjetivos (desconforto/angústia/avolição) e inapetência.

Segundo os critérios diagnósticos do DSM-5 (ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA, 2016), o indivíduo que pratica autoagressão, deve-se engajar em cinco ou mais dias, em dano intencional à superfície de seu corpo, com a expectativa de que a lesão levasse somente a um dano físico menor ou moderado. A ausência de intenção suicida foi declarada pelo indivíduo ou pode ser inferida por seu engajamento repetido em um comportamento que ele sabe que, provavelmente, não resultará em morte.

Sendo assim, a intenção da pessoa que se autoagride não é provocar o fim de sua vida, mas causar um flagelo que o “distraia” de sua dor emocional. Ele objetiva obter alívio de um estado de sentimento negativo e dessa forma resolver uma dificuldade interpessoal.

Algumas medidas que objetivam a prevenção tanto do comportamento suicida quanto do autolesivo já são evidenciadas, como o treinamento de médicos para identificar e tratar corretamente episódios de depressão, a restrição ao acesso a meios letais e o acompanhamento dos pacientes após episódios de tentativas de suicídio ou fenômenos de agressões corporais auto impostas. É importante diferenciar o indivíduo suicida daquele auto lesivo para proporcionar uma terapêutica adequada ao mesmo.

O tratamento de ambas comorbidades deve ser feito de forma individualizada, atendendo o paciente como um todo, levando-se em conta as dimensões biológicas, psicológicas e sociais do indivíduo, O manejo deve ser abrangente e sempre atrelado a psicoterapia e mudanças nos hábitos de vida.

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