Núcleo de Inteligência Emocional: da criação à execução
- CA FAMERV
- 24 de out. de 2020
- 4 min de leitura

A partir da leitura do livro chamado Ansiedade do autor Augusto Cury, e a necessidade de autoconhecimento e de “desacelerar do mundo acadêmico”, a estudante do curso de Medicina e Diretora de Pesquisa do Centro Acadêmico, Carolina Leão, decidiu criar e implementar o projeto Núcleo de Inteligênica Emocional (NIE), com o objetivo de conscientizar e ajudar os acadêmicos de Medicina sobre a sobrecarga emocional a que estão sujeitos, proporcionando palestras e rodas de conversa com profissionais que tenham experiência em assuntos relacionados a inteligência emocional. Assim, foi realizada uma entrevista com a Carolina para podermos entender todo o processo de motivação, criação e execução do projeto.
Ana Luiza Rabelo de Castro
Quais foram suas motivações para executar esse projeto?
Há um ano, eu comecei a observar que eu e meus colegas vivíamos irritados, com humor depressivo, angustiados. Tínhamos baixo limiar para frustrações, fobias, preocupações crônicas, além de um sentimento de apreensão contínua, obsessões e velocidade exacerbada de pensamentos. Eu não compreendia o que estava acontecendo, somente sabia que algo estava errado. Buscando auto conhecer-me, comecei a ler livros sobre saúde mental. Ansiedade: como enfrentar o mal do século, de Augusto Cury, foi o insight para descobrir o que havia de errado comigo e com meus colegas: estávamos com um nível de ansiedade asfixiante. A leitura dessa obra e de outras, como Emoções Inteligentes, de Tiago Brunet, fizeram com que eu compreendesse que estamos adoecidos pela ansiedade. Um trecho do livro de Brunet, marcou-me muito: “A ansiedade trabalha todos os dias para termos um excesso de futuro que gera uma sobrecarga emocional que nos envelhece, que somatiza doenças, que nos faz acordar cansados, que tira nosso sono e nos faz sofrer por antecipação. A função da ansiedade é nos deixar pesados e fazer nosso caminho insuportável”. Ser acadêmico de medicina e possuir níveis de ansiedade elevados é uma combinação catastrófica. Embora o estudo sobre ansiedade tenha norteado grande parte dessa iniciativa, a leitura do livro de Daniel Goleman, Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, foi de fundamental importância. E, na intenção de conscientizar e ajudar os acadêmicos de medicina sobre a sobrecarga emocional a que estão sujeitos, nasceu o Núcleo de Inteligência Emocional (NIE).
Porque você quis trazer esse projeto para a faculdade?
Eu acredito que a medicina não é um curso difícil, mas é um curso exaustivo. Há uma relação inversa entre a quantidade de conteúdo que deve ser assimilada e o tempo que possuímos para estudá-la. Somado a isso, os alunos de medicina precisam cumprir uma extensa lista de atividades extracurriculares, além da necessidade de manterem elevada produção científica. O tempo, que já era curto, torna-se cada vez mais escasso. Ademais, a expectativa em torno da aprovação nos processos seletivos de residência médica, angustiam os alunos desde os primeiros períodos do curso. O estudante de medicina tem em suas mãos, o que eu chamo de “combo de ansiedade do acadêmico de medicina”. Outro ponto importante, que na minha opinião agrava muito a ansiedade dos acadêmicos, é o excesso de redes sociais. Com a internet, temos uma percepção equivocada de que tudo tem que ser para agora e que, ao nos desconectarmos, estamos perdendo informações e oportunidades. Ficar longe do WhatsApp ou do Instagram é angustiante para alguns acadêmicos. Falando mais especificamente do WhatsApp, é compreensível que os alunos da nossa universidade “fiquem com medo de se desconectar”. Não raro, vejo professores repassando recados importantes, como mudança do horário das aulas ou atividades a serem realizadas, após às 21 horas, aos finais de semana e até mesmo feriados. Além disso, quantos “processos seletivos” são realizados por ordem de inscrição? Os alunos perdem a oportunidade de participarem de determinadas atividades, simplesmente porque não viram as informações antes dos colegas. Essa cultura imediatista, somada ao “combo da ansiedade do acadêmico de medicina”, faz com que os estudantes tenham um comportamento progressivamente ansioso, inquietante, impaciente e vivam em um estresse sem fim. A minha percepção, de que a maioria dos acadêmicos possuem um “estilo de vida patológico”, imposto pelo sistema de ensino médico, foi minha maior motivação para trazer o NIE para a faculdade, pois acredito que podemos (e devemos) ajudar a prevenir a deterioração da saúde mental dos estudantes.
O que é o Núcleo de Inteligência Emocional?
Gostaria de deixar claro, inicialmente, que a participação no Núcleo de Inteligência Emocional (NIE) não substitui, de forma alguma, o atendimento médico e multiprofissional destinado à saúde mental. É importante frisar também que o NIE é uma iniciativa acadêmica, mas que sempre será norteada por profissionais que possam contribuir com o autoconhecimento do acadêmico, para que ele adquira habilidades que o ajudarão a compreender a sua relação consigo mesmo, através de uma reflexão autocrítica. Augusto Cury diz que, “pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade. Não são apenas as drogas psicotrópicas que viciam, mas também o excesso de informação, de trabalho intelectual, de atividades, de preocupação, de uso do celular”. Como podemos perceber, o estudante de medicina tende ao “ excesso”. O NIE tem o objetivo de, através de palestras, permitir que o acadêmico de medicina tenha lucidez sobre a alienação e pressão social a que está sujeito. Como também, tenha consciência do individualismo exacerbado na medicina e como isso causa uma competitividade infundada, que causa isolamento e deterioração de suas relações sociais. Além, claro, da deterioração emocional.
Quais são os benefícios/ vantagens do NIE para nossa faculdade?
Além da ansiedade, fadiga excessiva, irritabilidade, insônia, compulsão por comida, dores musculares e de cabeça são “sintomas” gerados pelo estresse emocional. As pesquisas sobre a saúde mental de estudantes de medicina demonstram que essa classe é afetada, mais frequentemente, por transtornos mentais. É fato que o sistema educacional médico alimenta esse ciclo. Infelizmente, mudar o sistema é complicado, mas podemos, adquirindo inteligência emocional, diminuirmos a sobrecarrega que nossas emoções nos causam. Acredito que o maior benefício que o NIE pode oferecer é ajudar o acadêmico a reciclar falsas crenças, descaracterizar paradigmas limitantes, ter capacidade de reinventar-se nas crises, expandir seu potencial, além de poder formar pensadores. E, se não for muita ousadia, poder prevenir alguns transtornos psíquicos. Mas, reitero: o NIE não substitui o atendimento médico e multiprofissional destinado à saúde mental. O NIE pode oferecer subsídios para fortalecermos nossa mente, mas não cura, sozinho, uma mente já deteriorada.
コメント